Apesar de relativamente recente, nota-se um acúmulo crescente e robusto de evidências experimentais e clínicas que apontam um estado gradativo de ativação imune-inflamatória em pacientes com insuficiência cardíaca (IC). Níveis elevados de diversas citocinas são encontrados na circulação e no músculo cardíaco de indivíduos com IC, correlacionando-se, invariavelmente, com o grau de gravidade da doença e agindo na disfunção endotelial, no estresse oxidativo, na indução de anemia, na apoptose miocitária e na perda gradativa de massa muscular esquelética - no que se convencionou denominar o paradigma inflamatório da IC. Não só o miocárdio, mas diversos tecidos parecem sintetizar tais citocinas e perpetuar esse contínuo estado de inflamação em baixo grau, inclusive leucócitos, monócitos, células musculares esqueléticas e endoteliais - em resposta a estímulos hemodinâmicos, infecciosos, à hipóxia, ao estresse oxidativo e à ativação neuro-humoral, entre outros. Desse modo, forma-se uma rede de moléculas que interagem entre si, estabelecendo, ainda, conexões com outros eixos que efetivamente contribuem para a deterioração clínica dos pacientes - o que se encaixa no modelo fisiopatológico de acometimento multissistêmico que tem sido cada vez mais atribuído à IC. Ainda que a dosagem periférica desses biomarcadores reúna evidências bastante sólidas de poder prognóstico, os resultados dos ensaios terapêuticos que modularam em fase clínica a alça imune-inflamatória foram, até então, pouco encorajadores. Desse modo, acreditamos que é fundamental compreender melhor a ativação inflamatória e sua multifacetada relação com os eixos de descompensação da doença, para que possamos estabelecer novas perspectivas terapêuticas com impacto de relevância em um futuro próximo.
Despite being relatively recent, a growing and significant accumulation of experimental and clinical evidence has been observed that points to a gradual state of immune-inflammatory activation in patients with heart failure (HF). High levels of several cytokines are found in the circulation and cardiac muscle of individuals with HF, and invariably correlate with the severity of the disease. These cytokines act on endothelial dysfunction, oxidative stress, induction of anemia, myocyte apoptosis, and on the progressive loss of skeletal muscle mass – which is conventionally called the inflammatory paradigm of HF. Not only the myocardium, but also several tissues seem to synthesize these cytokines and perpetuate this continuous inflammatory state at a low degree, including leukocytes, monocytes, skeletal muscle cells and endothelial cells – in response to hemodynamic and infectious stimuli, to hypoxia, to oxidative stress, to neurohumoral activation, and others. Thus, a network of molecules that interact with each other is formed, and connections with other axes that effectively contribute to the clinical deterioration of the patients are also established – which fits into the pathophysiological model of multisystemic involvement that has been increasingly attributed to HF. Although the determination of these biomarkers in peripheral blood provides solid evidence of prognostic power, the results of therapeutic trials that modulated the immune-inflammatory loop in the clinical phase have been, so far, hardly encouraging. Therefore, we believe that a better understanding of the inflammatory activation and its multifaceted relation with the axes of decompensation of the disease is key for new therapeutic perspectives with a relevant impact to be established in the near future.