RESUMO Durante as últimas décadas, a incorporação de técnicas minimamente invasivas no tratamento de doenças colorretais testemunhou um progresso lento e firme, principalmente após o reconhecimento da segurança oncológica e melhor evolução. A adoção rotineira na prática clínica e na Residência Médica no Brasil ainda não amplamente avaliada até agora. Objetivos: O presente estudo visou avaliar a adoção e as limitações relativas ao uso de técnicas laparoscópicas entre cirurgiões colorretais brasileiros. Métodos: um questionário foi enviado a 1870 membros filiados à Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) em 2006. As questões foram enviadas por email, incluindo dados pessoais (sexo, idade) e profissionais (tempo e local de prática, filiação à SBCP, número mensal de procedimentos laparoscópicos, tratamento de câncer e limitações para realizar laparoscopia na rotina. Resultados: Entre os 1870 membros, 418 (22.4%) mandaram sua resposta, com uma maior participaçãoo de homens (80%) em comparação às mulheres (20%). A idade média foi de 43 (28-80) anos. A distribuição entre membros titulares e não titulares foi semelhantes (48% vs. 52%). As atividades profissionais foram desenvolvidas em clínica privada (84%), hospitais privados (73%), hospitais públicos (50%) e hospitais universitários (53%). Entre os que responderam (418), 110 (26.3%) não realizavam procedimentos laparoscópicos, enquanto 308 (73.7%) já haviam adotado o acesso laparoscópico rotineiramente na prática clínica. Um número médio de 7.6 procedimentos colorretais laparoscópicos são realizados por mês (1-40). Cerca de 13% dos cirurgiões iniciaram sua experiência laparoscópica diretamente com procedimentos colorretais, enquanto a maioria (87%) começaram por outros procedimentos no trato digestivo. A adoção da laparoscopia foi positivamente influenciada pela idade jovem dos membros (46% vs. 28%) e pela filiação a hospitais universitários (p = 0,01). Inversamente, cirurgiões trabalhando na prática privada demonstraram uma menor tendência em adotar o método. A maioria dos cirurgiões (93%) que adoraram a laparoscopia afirmou incluir pacientes com câncer colorretal em suas indicações operatórias. Entre os que responderam 106 (34,4%) já realizaram mais de 100 procedimentos laparoscópicos, e 167 (54,2%) reportaram experiência maior que 50 casos. Dentre aqueles que não adotaram técnicas minimamente invasivas, a falta de treinamento (73,6%) ou a indisponibilidade de instrumental laparoscópico (27,3%) foram incriminadas como os principais fatores limitantes. Conclusões: o índice de adoção de técnicas laparoscópicas no tratamento de doenças intestinais ainda é baixo (pelo menos 17%) entre cirurgiões colorretais brasileiros. Esforços futuros de nossa Sociedade Médica devem focar na provisão de treinamento supervisionado, na criação de oportunidades para preceptoria durante a experiência inicial e na obtenção de instrumental em centros que queiram mudar sua rotina e perspectivas.
ABSTRACT Routine adoption of laparoscopy in clinical practice and Medical Residency has not been widely evaluated in Brazil so far. Aim: To take an overview on the adoption and limitations concerning the use of laparoscopic techniques among Brazilian colorectal surgeons. Methods: A questionnaire was sent to 1870 SBCP filiated members, containing personal and professional data such as sex, age, length and local of practice, SBCP filliation, number of procedures, treatment of cancer and laparoscopy limitations. Results: 418 members (22.4%) sent their response (80% men and 20% women). 110 members (26.3%) affirmed they don't perform any laparoscopic procedure, while 308 (73.7%) have already adopted laparoscopy as a routine. An average number of 7.6 laparoscopic colorectal procedures were declared to be performed per month (1 to 40 procedures). Laparoscopic adoption rates were favourably influenced by young age members (46% vs. 28%) and affiliation to University hospitals (p = 0.01). Conversely, surgeons from private clinic showed a greater tendency of no adoption. Among the 308 responders, 106 (34.4%) have already surpassed more than 100 laparoscopic cases, and 167 (54.2%) reported an experience of more than 50 operated patients. The group of surgeons not using minimally invasive techniques incriminated lack of training (73.6%) and laparoscopic instruments availability (27.3%) as the main reasons for no adoption. Conclusions: Adoption rate of laparoscopic techniques to treat colorectal diseases is still low (at least 17%). Future efforts should focus on providing supervised training, proctorship during the initial experience and help instrumental acquisition in centers willing to change their routine and perspectives.