Introdução: As complicações biliares após transplante hepático são uma fonte importante de morbilidade e mortalidade. A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) é a primeira opção de tratamento em muitos casos, previamente a procedimentos mais invasivos. O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficácia da CPRE no tratamento destas complicações. Doentes e métodos: Estudo retrospetivo de todos os doentes submetidos a CPRE terapêutica devido a complicações biliares após transplante hepático, entre setembro de 2005 e setembro de 2015. Resultados: Incluídos 120 doentes submetidos a CPRE terapêutica, sendo 64% do sexo masculino, com idade média de 46 ± 14 anos. Complicações biliares: estenose da anastomose (EA) em 70%, estenose não anastomótica (ENA) em 14%, coledocolitíase em 32% e fuga biliar (FB) em 5,8%. Tempo entre transplante e primeira CPRE (meses): 19 ± 30 nas EA, 17 ± 30 nas ENA, 61 ± 28 na coledocolitíase e 0,7 ± 0,6 na FB (p < 0,001). Número de CPRE por doente: 3,8 ± 2,4 nas EA, 3,8 ± 2,1 nas ENA, 1,9 ± 1 na coledocolitíase e 1,9 ± 0,5 na FB (p = 0,003). Duração do tratamento (meses): 18 ± 19 nas EA, 21 ± 17 nas ENA, 10 ± 10 na coledocolitíase e 4 ± 3 nas FB (p = 0,064). Globalmente, a CPRE terapêutica foi eficaz em 46% dos casos (como procedimento isolado em 43% e por rendez-vous em 3%). Eficácia por complicação: 39% nas EA, 12% nas ENA, 91% na coledocolitíase e 86% nas FB. O tempo médio de follow-up foi de 43 ± 31 meses. Em 48% dos doentes, foi realizada terapêutica por colangiografia percutânea e/ou cirurgia por ineficácia da CPRE. Odds ratio para um tratamento endoscópico eficaz: 0,2 para ENA (0,057-0,815), 12,4 para coledocolitíase (1,535-100,9) e 6.9 para FB (0,798-58,95). Não houve diferenças estatisticamente significativas para a presença de uma EA. Conclusões: A CPRE foi eficaz no tratamento de complicações biliares após transplante hepático em cerca de metade dos casos, evitando outros procedimentos invasivos. O tratamento endoscópico foi particularmente eficaz em casos de coledocolitíase e FB.
Background and Aims: Biliary tract complications following liver transplant remain an important source of morbidity and mortality. Endoscopic retrograde cholangiopancreatography (ERCP) has become a common therapeutic option before other invasive procedures. The aim of this study was to evaluate ERCP efficacy in managing this type of complications. Methods: Retrospective study of all patients who underwent therapeutic ERCP due to post-liver transplant biliary complications between September 2005 and September 2015, at a deceased donor liver transplantation centre. Results: Therapeutic ERCP was performed in 120 patients (64% men; mean age 46 ± 14 years). Biliary complications were anastomotic strictures (AS) in 70%, non-anastomotic strictures (NAS) in 14%, bile leaks (BL) in 5.8%, and bile duct stones (BDS) in 32%. The mean time between liver transplant and first ERCP was: 19 ± 30 months in AS, 17 ± 30 months in NAS, 61 ± 28 months in BDS, and 0.7 ± 0.6 months in BL (p < 0.001). The number of ERCP performed per patient was: 3.8 ± 2.4 in AS, 3.8 ± 2.1 in NAS, 1.9 ± 1 in BDS, and 1.9 ± 0.5 in BL (p = 0.003). The duration of the treatment was: 18 ± 19 months in AS, 21 ± 17 months in NAS, 10 ± 10 months in BDS, and 4 ± 3 months in BL (p = 0.064). Overall, biliary complications were successfully managed by ERCP in 46% of cases, either as an isolated procedure (43%) or rendez-vous ERCP (3%). Per complication, ERCP was effective in 39% of AS, in 12% of NAS, in 91% of BDS, and in 86% of BL. Globally, the mean follow-up of the successful cases was 43 ± 31 months. Percutaneous transhepatic cholangiography and/or surgery were performed in 48% of patients in whom ERCP was unsuccessful. The odds ratio for effective endoscopic treatment was 0.2 for NAS (0.057-0.815), 12.4 for BDS (1.535-100.9), and 6.9 for BL (0.798-58.95). No statistical significance was found for AS (p = 0.247). Conclusions: ERCP allowed the treatment of biliary complication in about half of patients, avoiding a more invasive procedure. Endoscopic treatment was more effective for BDS and BL.