RESUMO Objetivo: Verificar se leituras de continuous glucose monitoring (CGM, monitoramento contínuo da glicose) anormais (hipoglicemia/hiperglicemia) podem prever o aparecimento de diabetes relacionado à fibrose cística (DRFC) e/ou comprometimento clínico (declínio do IMC e/ou do VEF1) em pacientes pediátricos com fibrose cística (FC). Métodos: Estudo de coorte longitudinal prospectivo envolvendo pacientes com FC sem diabetes no início do estudo. O tempo médio de acompanhamento foi de 3,1 anos. Os pacientes foram submetidos a CGM de três dias, teste oral de tolerância à glicose (TOTG) e medida de VEF1 e IMC no início do estudo. TOTG, VEF1 e IMC foram reavaliados ao final do acompanhamento. Resultados: Trinta e nove pacientes com FC (10-19 anos de idade) apresentaram leituras de CGM válidas no início do estudo, e 34 completaram o acompanhamento (média = 3,1 ± 0,5 anos). Nenhuma das variáveis estudadas previu evolução para DRFC ou apresentou associação com eventos hipoglicêmicos. O CGM conseguiu detectar anormalidades glicêmicas não reveladas pelo TOTG. Pacientes com níveis de glicose ≥ 140 mg/dL no CGM, comparados àqueles com níveis menores, apresentaram valores de IMC e escores z de IMC menores no início do estudo - 17,30 ± 3,91 kg/m2 vs. 19,42 ± 2,07 kg/m2; p = 0,043; e −1,55 ± 1,68 vs. −0,17 ± 0,88; p = 0,02, respectivamente - e no final do acompanhamento - 17,88 ± 3,63 kg/m2 vs. 19,95 ± 2,56 kg/m2; p = 0,039; e −1,65 ± 1,55 vs. −0,42 ± 1,08; p = 0,039. Na comparação dos pacientes com e sem DRFC, os primeiros apresentaram pior VEF1 (em % do previsto) - 22,67 ± 5,03 vs. 59,58 ± 28,92; p = 0,041 - e maior declínio do VEF1 (−36,00 ± 23,52 vs. −8,13 ± 17,18; p = 0,041) no final do acompanhamento. Conclusões: O CGM foi capaz de identificar anormalidades glicêmicas não detectadas pelo TOTG que se relacionaram com reduções precoces do IMC. O CGM foi ineficaz na previsão do aparecimento de diabetes nesta população com FC. Diferentes critérios diagnósticos para diabetes podem ser necessários para indivíduos com FC.
ABSTRACT Objective: To determine whether abnormal continuous glucose monitoring (CGM) readings (hypoglycemia/hyperglycemia) can predict the onset of cystic fibrosis-related diabetes (CFRD) and/or clinical impairment (decline in BMI and/or FEV1) in pediatric patients with cystic fibrosis (CF). Methods: This was a longitudinal prospective cohort study involving CF patients without diabetes at baseline. The mean follow-up period was 3.1 years. The patients underwent 3-day CGM, performed oral glucose tolerance test (OGTT), and had FEV1 and BMI determined at baseline. OGTT, FEV1, and BMI were reassessed at the end of the follow-up period. Results: Thirty-nine CF patients (10-19 years of age) had valid CGM readings at baseline, and 34 completed the follow-up period (mean = 3.1 ± 0.5 years). None of the study variables predicted progression to CFRD or were associated with hypoglycemic events. CGM could detect glucose abnormalities not revealed by OGTT. Patients with glucose levels ≥ 140 mg/dL, as compared with those with lower levels, on CGM showed lower BMI values and z-scores at baseline-17.30 ± 3.91 kg/m2 vs. 19.42 ± 2.07 kg/m2; p = 0.043; and −1.55 ± 1.68 vs. −0.17 ± 0.88; p = 0.02, respectively-and at the end of follow-up-17.88 ± 3.63 kg/m2 vs. 19.95 ± 2.56 kg/m2; p = 0.039; and −1.65 ± 1.55 vs. −0.42 ± 1.08; p = 0.039. When comparing patients with and without CFRD, the former were found to have worse FEV1 (in % of predicted)-22.67 ± 5.03 vs. 59.58 ± 28.92; p = 0.041-and a greater decline in FEV1 (−36.00 ± 23.52 vs. −8.13 ± 17.18; p = 0.041) at the end of follow-up. Conclusions: CGM was able to identify glucose abnormalities not detected by OGTT that were related to early-stage decreases in BMI. CGM was ineffective in predicting the onset of diabetes in this CF population. Different diagnostic criteria for diabetes may be required for individuals with CF.