INTRODUÇÃO: avanços significativos no tratamento medicamentoso da doença de Crohn (DC) ocorreram nos últimos 12 anos, principalmente após a introdução da terapia anti-TNF. A cirurgia laparoscópica colorretal representa um dos maiores progressos no tratamento cirúrgico minimamente invasivo da DC, bem como no manejo de outras afecções. Existe uma tendência a menores taxas de complicações com as ressecções intestinais laparoscópicas quando comparadas a cirurgia convencional. O objetivo deste estudo foi analisar e comparar as taxas de complicações após ressecções intestinais na DC entre as duas vias de acesso em uma série de casos brasileira. MÉTODO: estudo retrospectivo longitudinal, incluindo pacientes com DC submetidos a ressecções intestinais em um centro de referência brasileiro em doença inflamatória intestinal (DII), tratados entre janeiro de 2008 e junho de 2012, com cirurgia laparoscópica (CL) ou cirurgia convencional (CC). As variáveis analisadas foram: idade no momento da cirurgia, gênero, classificação de Montreal, tabagismo, medicações concomitantes, tipo de cirurgia, via de acesso, presença e tipo de complicação em até 30 dias do procedimento. Readmissão, reoperações e mortalidade também foram avaliadas. Os pacientes foram alocados em dois grupos de acordo com a via de acesso (CL ou CC), sendo as taxas de complicações comparadas entre si. Análise estatística foi realizada pelos testes de Mann-Whitney (variáveis quantitativas) e chi-quadrado (qualitativas), com p<0.05 considerado significativo. RESULTADOS: No total, 46 pacientes (25 homens) foram incluídos (16 operados por CL), com média de idade de 38,1 (± 12,7) anos. Os grupos foram considerados homogêneos em relação à idade, gênero, localização da doença, DC perianal e medicações concomitantes. Houve predomínio da forma fistulizante no grupo de cirurgias abertas (p = 0.029). O procedimento mais realizado foi a ileocolectomia direita em ambos os grupos (56,7% na CC e 75% na CL - p = 0.566). No total, complicações pós-operatórias (cirúrgicas e clínicas) ocorreram em 60% (18/30) dos casos após CC e 12,5% (2/16) após a CL (p = 0.002). Infecção da ferida operatória foi a complicação mais frequente (10/30 na CC e 1/16 na CL). Ocorreram 3 óbitos no grupo da CC. Em análise individualizada das complicações, não houve diferença entre os grupos em relação a sepse abdominal, infecções urinárias, pneumonia, reinternações, reoperações e óbitos (p=0.074). CONCLUSÕES: houve maior taxa de complicações nos pacientes operados por CC comparado a CL. A seleção de casos para cirurgia laparoscópica provavelmente contribuiu para este resultado, havendo uma tendência a utilização da cirurgia convencional nos casos mais graves, geralmente com DC abdominal fistulizante. A CL parece ser a via de acesso recomendada na maioria dos casos de DC não-complicada.
BACKGROUND: significant advances in medical therapy for Crohn's disease (CD) occurred in the last 12 years, mainly due to the introduction of anti-TNF therapy. Laparoscopic colorectal surgery represented the most important advance on surgical treatment in the management of CD, as it also had developed in the treatment of other conditions. There is a tendency for lower complication rates after laparoscopic bowel resections as compared to open surgery. The aim of this study was to analyze and compare the complication rates after bowel resections for CD between the two approaches in a Brazilian case series. METHODS: this was a retrospective longitudinal study, including CD patients submitted to bowel resections from a single Brazilian Inflammatory Bowel Diseases (IBD) referral center, treated between January 2008 and June 2012 with laparoscopic approach (LA) or conventional approach (CA). VARIABLES ANALYZED: age at surgery, gender, Montreal classification, smoking, concomitant medication, type of surgery, surgical approach, presence and type of complication up to 30 days after the procedures. Readmission and reoperation rates, as well as mortality, were also analyzed. Patients were allocated in two groups regarding the type of procedure (LA or CA), and complication rates and characteristics were compared. Statistical analysis was performed with Mann-Whitney test (quantitative variables) and chi-square test (qualitative variables), with p < 0.05 considered significant. RESULTS: a total of 46 patients (25 men) were included (16 submitted to LA), with mean age of 38.1 (± 12.7) years. The groups were considered homogeneous according to age, gender, CD location, perianal disease and concomitant medications. There were more patients with fistulizing CD on the CA group (p = 0.029). The most common procedure performed was ileocolic resection on both groups (56.7% of the CA and 75% of the LA patients - p = 0.566). Overall, total complications (surgical and medical, including minor and major issues) occurred in 60% (18/30) of the CA group and 12.5% (2/16) of the LA group (p = 0.002). Wound infection was the most frequent complication (10/30 on CA and 1/16 on the LA groups). There were 3 deaths in the CA group. Specific analysis of each complication did not demonstrate any difference between the groups regarding abdominal sepsis, urinary tract infections, pneumonia, readmission, reoperations and deaths (p = 0.074). CONCLUSIONS: there was a higher complication rate in patients operated with CA as compared to LA. This was probably due to patient selection for the laparoscopic approach, with severe cases, mostly due to fistulizing abdominal CD, being operated mainly by open surgery. LA tends to be the recommended approach in most cases of non-complicated CD.