Resumo Os chamados “eventos de demolição” constituem uma das expressões mais dramáticas e tensionadas das reformas que marcaram os processos de modernização urbana porque passaram por várias cidades brasileiras, na virada para o século XX. Mais do que os projetos de futuro e as visões de progresso per se, as forças demolidoras permitem indagar e analisar representações em disputa e leituras da cidade, da paisagem e do passado. Permitem também evidenciar e discutir interesses políticos, econômicos e culturais, além de estranhamentos, espantos, lamentos, vozes dissonantes, que expressam certo sentido de tradição e mesmo, pode-se dizer, de preservação. Assim, este artigo aborda casos de demolição em Recife e Salvador dos anos 1910, considerando, por um lado, o contexto mais amplo das reformas urbanas e, por outro, os esforços de criação dos serviços estaduais de proteção aos monumentos nos anos 1920. Para tanto, mobilizamos diversas fontes primárias (matérias de diversos periódicos, fotografias, relatórios oficiais, entre outros), para identificar e discutir falas de agentes sociais, mudanças de palavras, imagens, significados e argumentos inseridos num debate aberto e indefinido sobre a herança da paisagem e estrutura urbana do passado colonial.
Abstract The so-called “demolition events” are one of the most dramatic and tense expressions of the reforms that marked the urban modernization processes of several Brazilian cities on the turn to the 20th century. Beyond futuristic projects or visions of progress per se, the demolishing forces allow us to question and analyze representations in dispute and readings of the city, landscape and past. They lead also to the identification of political, economic, and cultural interests, as well as estrangement, astonishment, regrets, and dissonant voices that pointed to a certain sense of tradition and, we might say, preservation. Thus, this paper aims to discuss some demolitions cases at Recife and Salvador in the 1910s, considering, both the broader context of urban reforms and efforts to create official services to protect monuments in the 1920s. Therefore, we mobilized several primary sources (articles from differents periodicals, photographs, official reports, among others) to identify and discuss speeches of social agents, changes of words, images, meanings and arguments inserted in a wide open and undefined debate about colonial heritage of urban landscape and structure.